Um grande jornalista!
O último fim-de-semana não vai ficar na memória de muita gente apenas pelas repercussões emocionais dos factos referidos no artigo do lado, nem só pelo calor vulcânico em que decorreu o «derby» do futebol protagonizado por Benfica e Sporting, nem por tudo aquilo que se viu nos órgãos de comunicação. Para mim, o sábado passado vai ficar indelevelmente gravado no meu espírito mas por outra razão, que, algo paradoxalmente, relacionando-se também com o futebol e o Benfica, se ergue, de dedo espetado, contra ambos. Com efeito, nesse dia, um homem do Benfica e do futebol, Vale e Azevedo, foi alvo de mais um julgamento sinistro, realizado à margem das normas mais elementares de qualquer sociedade humana decente e civilizada, num arremedo de assembleia geral, que atentas as condições em que, de estatutariamente válida e legal ou socialmente aceitável só terá tido a maldade de uns quantos benfiquistas rancorosos e a imperícia ou a falta de coragem de um presidente cúmplice. Por alguma razão escondida, aliás, terá sido negada autorização de permanência no local aos jornalistas; por outra, não menos significativa, terá sido omitida a leitura da defesa do «pré-condenado» constante do processo e em total e fundamentada oposição ao parecer do relator; por outra, inevitável ou supostamente perversa, terá sido recusada aos apoiantes de Vale e Azevedo a oportunidade de verificar, antes do início da deposição dos votos nas urnas, se estas se encontravam limpas, isto é, completamente vazias; ainda por outra, de todo incompreensível, a não ser à luz de pressupostos indignos de gente séria e democrática, que se julga não poder ser responsável pelo atropelo; por outra, finalmente, para não alongar mais o negregado rol, foi negada a pretensão dos «oposicionistas» de colocarem representantes seus, junto dos escrutinadores, para acompanhar a contagem dos votos entrados nas urnas.Tudo isto e o mais que não vale a pena contar, aconteceu numa Assembleia Geral do Benfica, um clube onde a prática democrática, que até levou um associado confessadamente oposto ao anterior regime (Manuel da Conceição Afonso) a ser eleito, por duas vezes, contra a vontade da PIDE, Presidente das «águias» numa altura em que, seguramente, a grande maioria dos participantes no lamentável espectáculo, ou ainda não existia, ou não tinha a mínima ideia do que era democracia. E foi assim que um clube que se orgulha de ter 100 mil associados e mais de seis milhões de adeptos espalhados pelo mundo, viu cerca de 200 dos 400 participantes na reunião, votarem a expulsão de um antigo Presidente, a quem provavelmente, ao que é legítimo deduzir de pelo menos uma sentença dos julgamentos a que foi submetido, mais de um milhão de contos são ainda devidos.A que extremos de injustiça e de iniquidade podem levar o ódio, a inveja, a emulação, a crueldade, ou até a simples ignorância de certos homens! E tinhas que ser tu, Benfica, tu o porta-estandarte do «e pluribus unum» no desporto português, a cometer essa ignomínia!Por Alfredo Farinha – jornalista.Publicado no jornal “O Diabo” de 17 de Maio de 2005
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